Guilherme Kalel e Amanda Heimann: Jornalistas
Do Expresso 365 11/06/2025
A última semana foi marcada por fatos políticos importantes no Brasil. Depois de anos se falando que houve uma tentativa de golpe no país após as eleições de 2022, o Supremo Tribunal Federal, finalmente começou a interrogar os suspeitos de participar da trama golpista.
O chamado primeiro núcleo dessa lista, que tem entre réus Jair Bolsonaro e alguns de seus principais aliados na época, além de alto comandantes das Forças Armadas, e que tiveram que se sentar no banco dos réus.
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, colaborador da Polícia Federal no processo com uma delação, foi o primeiro a ser interrogado por integrantes do Supremo, pela Procuradoria-Geral e as defesas de outros réus.
Cid afirmou que não foi coagido a fazer a delação e deu detalhes de como as coisas na sua visão estavam funcionando pós a derrota de Bolsonaro.
Narrou reuniões e conversas de Whatsapp que participou, e como comandantes das forças se encaixaram no golpe.
A grande novidade desse depoimento, é que o Tenente-Coronel retirou responsabilidades que se imaginavam ser de Bolsonaro exclusivamente, as transferindo para o General Walter Braga Netto.
Almir Garnier, que comandou a Marinha no governo Bolsonaro, foi outro a prestar depoimento e negar qualquer acusação de trama golpista.
O Marinheiro negou que houvessem conversas de ruptura institucional ou que tenha posto tropas a disposição de Bolsonaro para um golpe.
A frase atribuída a ele foi dita pelo então Brigadeiro da Aeronautica Batista Júnior.
Mas Garnier alega nunca ter dito tal coisa.
Já Anderson Torres, outro a depor, Ministro da Justiça de Bolsonaro, disse que todas as suas falas foram no sentido de estimular colegas a se engajarem nas eleições.
E que usou relatórios da Polícia Federal, entregues por assessores, para que pudesse fazer a defesa de que as urnas poderiam ser fraudadas facilmente.
Augusto Heleno, disse que não responderia as perguntas reservando se ao direito do silêncio previsto em lei, e respondendo apenas as perguntas de sua defesa.
Em todas as suas respostas, Heleno foi enfático ao afirmar que não participou de nem um plano nem viu Bolsonaro fazer nem um, que culminasse em ruptura da democracia.
O Ex-Presidente Jair Bolsonaro, falou ao Supremo na tarde de terça-feira, 10 de junho. Foi com certeza um dos momentos mais esperados dessa fase do julgamento.
Bolsonaro disse que sempre jogou dentro das 4 linhas da constituição, disse que muitas vezes o que dizia em suas reuniões eram tons de desabafo, e que nunca atacou o processo eleitoral brasileiro.
O Ex-Presidente disse que fez e faz críticas ao sistema eleitoral, que pode ser fraudado e não é auditável.
Usou para defender seu ponto de vista, relatórios e documentos feitos por diversas entidades e associações, que endagam o processo eleitoral no Brasil.
O Ex-Presidente negou ter editado uma minuta para um golpe, e ter tolido o documento retirando a prisão de autoridades.
Disse que houveram discussões com Militares, de quem era amigo pessoal, sobre possibilidades a serem adotadas se encontrassem fraudes nas urnas.
Nada foi encontrado e todas as discussões foram abortadas, porque não eram constitucionais.
O ex-mandatário também negou que tenha participado ou mandado executar, qualquer plano que culminasse na morte de autoridades ou do Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
E defendeu anistia para os envolvidos no quebra quebra de 8 de janeiro de 2023. Para Bolsonaro, aquilo não foi uma tentativa de golpe, porque golpe se faz com tanques nas ruas.
O Ex-Presidente não fez ataques diretos e foi muito comedido em suas colocações, em dados momentos arrancou sorrisos dos presentes, inclusive quando brincou com o Ministro Alexandre de Moraes, o convidando para ser seu Vice de Chapa em 2026, momento em que o Ministro declinou, mas sempre mantendo também o bom humor.
Os interrogatórios transcorreram de forma tranquila, muito diferente daquilo que parte de integrantes da esquerda e da direita imaginaram.
Mas para Bolsonaro, apesar da fala mança no interrogatório, isso pode não ser o suficiente para provar inocência.