Por Maya Oliveira e Gabriel Pinho
08/12/2024
Neste domingo, 8 de dezembro, a coluna Expresse OP, publica sua 2ª entrevista desde sua criação em novembro de 2024.
A cada 15 dias, uma entrevista especial é publicada por aqui, para trazer aos leitores da Agencia Orcon Press.
Hoje, a Equipe conversa com Lívia Morelli.
Deficiente visual nascida em Gravataí, no RS, se mudou sozinha aos 18 anos de idade par a cidade de Porto Alegre, para cursar a faculdade.
Depois de fazer dois cursos superiores e aos 30 anos, Lívia continua por lá.
Foi recentemente Jornalista e Subeditora da Agencia Orcon Press, mas deixou o cargo, em 28 de novembro, quando se desligou da equipe.
Agencia Orcon Press:
“Como foi para você sair de casa com deficiência visual e encarar a faculdade, numa cidade que não conhecia, grande e sozinha?”
Lívia Morelli:
“Foi um dos maiores desafios da minha vida. Eu sempre busquei desde criança fazer coisas com total autonomia, meus pais me ensinaram isso.
Eu nasci com deficiência visual, mas isso não era algo que me incapacitava, eu poderia ser o que quisesse ser e ir onde eu quisesse ir, me dizia o meu pai.
Por isso eu disse que queria cursar Serviço Social, e ajudar as pessoas.
Porque sabia que como eu, muitas pessoas deficientes existiam no Brasil mas nem todas tinham uma família que apoiasse, ou condições financeiras pra esse apoio, como eu poderia ter.
O desafio de fazer isso fora da minha cidade e da minha zona de conforto, foi gigantesco.
Me mudei pra um apartamento pequeno, alugado, no começo de tudo, mas tive que me adaptar.
Era pertinho da faculdade e a primeira coisa que tive que fazer, foi aprender a andar sozinha pra ir até a aula e voltar pra casa.
Nos primeiros 5 dias, minha mãe acompanhou o trajeto, depois mais 3 dias ela vendo a distância eu o fazer, para ter certeza que decorei o caminho e não teria problemas.
O bom de Porto Alegre é que as pessoas são muito receptivas e auxiliam bastante pessoas com deficiência visual.
Eu me dei bem nesse quesito e adaptei super rápido.
2 anos mais tarde, meu pai construiu uma casa para mim e eu me mudei do apartamento e foi outra adaptação, porque aí estava longe e tinha que andar de Uber.
Mas deu tudo certo no final.”
Agencia Orcon Press:
“Qual foi o momento mais difícil de sua adaptação em uma cidade nova?”
Lívia Morelli:
“A adaptação teve seu ápice quando minha mãe voltou para Gravataí, 10 dias depois de eu me instalar em Porto Alegre.
Aí eu estava sozinha e tinha que me virar sozinha, porque até então eu sabia, se precisasse de apoio era ligar e ela estaria lá.
Agora a partir do momento que ela foi, eu comecei a ver com outro olhar as coisas.
De qualquer forma a adaptação acabou sendo tranquila, vejo como uma questão de força de vontade.
Não tenho a visão é fato, mas isto não quer dizer que eu não possa me mudar e adaptar em outras cidades ou ambientes, basta querer.”
Agencia Orcon Press:
“Depois de terminar o Serviço Social, ingressou na faculdade de Historia, como essa escolha aconteceu?”
Lívia Morelli:
“Minha intenção era entrar no Serviço Social e trabalhar com isso pro resto da minha vida, queria ajudar pessoas.
No curso eu conheci uma professora que acabou se tornando minha amiga pessoal, e a irmã dela, era professora de Historia.
Eu me apaixonei pela matéria quando começamos a conversar, e decidi fazer o curso.
Então me matriculei nele, para que pudesse fazer as duas faculdades.”
Agencia Orcon Press:
“E como o Jornalismo entra na sua vida, e se torna Jornalista?”
Lívia Morelli:
“Isso é a coisa mais engraçada e meteórica que aconteceu, veja bem.
Eu ingressei numa plataforma de cursos para deficientes visuais porque queria aprimorar a informática na minha vida.
Meu conhecimento era básico mas eu sentia que precisava evoluir mais, até por conta de querer trabalhar com Serviço Social, sabia que ia precisar de conhecimentos melhores.
Meu professor do primeiro curso que eu fiz nessa área, foi Guilherme Kalel.
Me encantei pelo jeito dele ser e pelo trabalho que desenvolvia dentro daquela plataforma, pelo site que ele tinha, vendo as coisas que ele podia fazer.
E assim como eu, Kalel não enxergava nada.
Era fantástico saber da experiência tão positiva de outro deficiente, eu queria conhecer mais historias, mais pessoas como eu, mas infelizmente não tinha até então, tanto contato.
O curso foi encerrado, e u estava muito contente com o que eu tinha aprendido.
Em janeiro de 2024, voltei a procurar o Kalel, e disse a ele que queria aprender a HTML.
Uma linguagem de programação, mais avançada, e ele disse que poderia ensinar WordPress.
Ele estava começando com o Orcon e a gente combinou as agendas para não prejudica-lo e ele me enviava as aulas para eu fazer.
Lendo as matérias, foi me despertando a curiosidade de saber como era ser Jornalista.
Conheci o Programa Orcon de Jornalismo e decidi fazer o curso.
Em maio, estava estagiando dentro do Orcon Press, em julho fui contratada para ser Jornalista, quando tirei o MTB.
Minha vida mudou por completo, dentro do Orcon, existia o Instituto Novorcon, eu podia usar minha faculdade de Serviço Social, para ajudar as pessoas, e trabalhar como Jornalista, o emprego dos sonhos.”
Agencia Orcon Press:
“E como foi para você, ser Subeditora do Site? Uma ascensão tão rápida?”
Lívia Morelli:
“Eu nunca pensei que chegaria tão longe dentro da equipe. O Kalel nos dá oportunidades de crescer quando percebe potencial e força de vontade em nós da equipe.
Eu cheguei e fui fazendo meu trabalho, até o dia que ele me disse, você pode mais, faz mais.
Então me pediu pra ajudar ele a programar o Site nos domingos, eu fazia uma vez por mês pra ele descansar, ficar com a família ou fazer alguma outra coisa que precisasse.
Daí, fui aprimorando até em setembro, quando ele me convidou para ser Sub dele.
Foi uma surpresa, uma emoção gigantesca, e com isso, veio a oportunidade de também chegar a Vice-presidência do Instituto Novorcon, um dos dias mais felizes da minha vida.”
Agencia Orcon Press:
“O que projeta para o futuro, dentro ou fora da Agencia?”
Lívia Morelli:
“Eu não projeto futuro, eu vivo o presente porque é nisso que creio que temos que nos concentrar.
Claro que eu tenho sonhos de ser cada vez uma profissional melhor, um ser humano melhor, etc.
Mas tudo que eu tenho conquistado é fruto de um trabalho que vem desenhando-se como tem que ser.
E eu estou muito feliz com a equipe e com o que estou fazendo.”
Agencia Orcon Press:
“Que mensagem que pode deixar para outras pessoas com deficiência como você?”
Lívia Morelli:
“Deficiência não é impedimento de fazermos nada.
Minha trajetória me mostra isso todos os dias, eu saí de casa para ser Assistente Social, e olha onde eu estou.
Foram os caminhos que eu percorri que me trouxeram aqui, e tenho certeza, podem trazer qualquer um.
Hoje em dia, não faz as coisas quem não quer, porque tudo está aí.
Tudo é digital, temos entidades que oferecem excelentes suportes, e temos trabalhos como do Novorcon, que mudam a vida das pessoas.
Basta querer e nunca se ver como coitadinho, a pessoa com deficiência tem que exigir seu lugar de respeito na sociedade.
Mas antes, precisa querer ter esse respeito e lutar por ele.
Não basta falar, eu quero mas. E não fazer nada porque põe um monte de obstáculos.
Tem que pensar fora da casinha, como é que eu vou resolver essa questão para chegar ao meu objetivo.
Pensar e fazer, porque somos deficientes sim, mas podemos chegar onde quisermos ir, e ser quem ou o que, quisermos ser.”
Lívia Morelli deixou a Equipe Orcon Press, no último 28 de novembro, a entrevista foi realizada antes disso para a publicação atual.
Hoje, a Jornalista se prepara para lançar um Blog pessoal, segundo relatou posteriormente ao Expresse OP.