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Opinião: Drama de deficientes visuais mineiros é apenas mais um capítulo triste na historia de abandono dessas pessoas no Brasil

Por Guilherme Kalel

01/12/2024

Neste domingo, 1º de dezembro, a Agencia Orcon Press trouxe em suas páginas uma reportagem que conta o drama vivenciado por 8 deficientes visuais de Minas Gerais.
Residentes numa Casa Lar, da União Auxiliadora de Cegos de Belo Horizonte, eles terão que deixar o imóvel porque a propriedade foi vendida num leilão.
Essas 8 pessoas, maioria idosos que estão na casa há mais de 40 anos, não tem vínculo familiar com outras pessoas e tem nessa, sua moradia permanente.
Sem o imóvel estariam na rua e desamparados.

Além deles, outros deficientes visuais frequentam o espaço, para receber atendimento e orientações, quanto a atividades de vida diária, cursos e apoio psicológico e pedagógico.
Todas essas pessoas perderão esse atendimento, se a unidade for desativada.

A União é a responsável por protagonizar toda essa situação dramática.
Foi uma dívida contraída com o INSS há mais de 50 anos e não paga pela Entidade, que gerou o leilão do imóvel agora.
A casa já foi vendida mas os diretores da entidade tentam mobilizar a sociedade e políticos, para uma possível reversão e rediscussão da situação.

Mas o drama que estas pessoas enfrentam hoje, não é uma exclusividade de Minas Gerais, nem tão pouco de Belo Horizonte.
Há anos, o Brasil vem deixando de atender da forma como deveria, pessoas com deficiência visual.
Antes era comum, encontrar em diversas cidades brasileiras, entidades que ofereciam o atendimento de reabilitação e a moradia para deficientes visuais, chamadas também de Casa Lar.
Com esses espaços, deficientes que não tinham família, ou que não tinham boa convivência com seus familiares, poderiam viver em paz.
Isso tudo começa a mudar, entre os anos de 2013 e 2016, com novas políticas públicas do governo federal, desencadeadas pela Presidente Dilma Rousseff, do PT.
Foi dela, o pontapé inicial para que as instituições tivessem que se remodelar, e acabassem com os status de lar, para essas pessoas.

Nas novas modalidades de atendimento, entidades que recebem verba pública não podem atender como Casa Lar, apenas Centro Dia.
E para piorar a situação, a maior parte desses deficientes visuais, tiveram que se readaptar a uma realidade, quase que da noite para o dia.
Outras pessoas mais jovens, que viviam e vivem em exploração familiar no Brasil, não tem mais para onde ir, ou quem recorrer.
Porque sem a Casa Lar, esses deficientes visuais ficam desamparados.

A avaliação feita pela Assistente Social Manuela Becker, que também é deficiente visual, é que esses números de pessoas em exploração, seriam menores no Brasil, se as entidades oferecessem mais suporte para as pessoas.
Isso não acontece, por diversos fatores mas o principal, elas precisam do dinheiro do governo para se manter. E não podem receber moradia permanente.

Algumas Casas resistem, apesar de todas as dificuldades, e vivem de doações de terceiros.
São pessoas e empresas, que enxergam a necessidade de apoiar essas pessoas, e seguem fazendo o que era dever do governo, e que se refuta, a fazer.
O caso de Belo Horizonte, é apenas um drama novo numa série de episódios que podem-se enxergar, que é lamentável e inacreditável neste país tão desigual.

Nesse sentido, é preciso uma clara e urgente reflexão daqueles que estão em condição de poder.
E dos próprios deficientes visuais, que podem lutar por aqueles que não tem voz.
Só com união, algo poderá ser feito e mudado neste país, e esta união é para agora.

Guilherme Rodrigues de Azevedo – Jornalista Guilherme Kalel.
MTB: 89344 / SP.
É Editor Responsável pela Agencia Orcon Press e suas marcas associadas.
Presidente do Instituto Novorcon de Projetos Sociais.
Professor de Conteúdo Digital para deficientes visuais. Consultor de Acessibilidade.
E Escritor de Romances e Poesias.
guilherme@orconpress.com.br

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