Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal, lideram ranking de estado em que há lista de espera para procedimentos não emergenciais
Por Guilherme Kalel, Vanessa Rezende e Isabella Peroni
18/09/2024 | 9h45
Na manhã de quarta-feira, 18 de setembro, o Brasil possuía um total de 1208 pessoas, que estavam registradas em filas do Sistema Único de Saúde, e que precisam realizar uma cirurgia de reparo em válvulas cardíacas, também conhecida como valvuloplastia.
O procedimento em qualquer lugar do mundo, seria emergencial, vez que faz parte do coração, órgão vital para o ser humano.
No Brasil, os estados que controlam essas filas, enxergam de outra forma.
As cirurgias são tratadas como eletivas e as pessoas aguardam. Os procedimentos transcorrem conforme há recursos para movimentar as filas, e nem sempre, a agilidade é prioridade ou faz com que as pessoas recebam o atendimento no tempo necessário.
A Agencia Orcon Press, a revista digital Expresso 365 e o Podcast Live 365, tem acompanhado o drama de pessoas que estão nessa situação ao longo dos últimos meses.
Em fevereiro de 2024, uma reportagem sobre o tema chegou a ser publicada com dados atualizados a época, e as filas começaram a andar, em alguns estados.
Porém, meses mais tarde, a situação voltou a piorar e as filas continuaram a crescer, até chegarem em números apresentados em levantamento em 18 de setembro.
Dentre esse universo de 1208 brasileiros que esperam uma cirurgia cardíaca, ou a morte, há outros dados a se destacar.
Os estados do Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal e São Paulo, lideram o ranking de pessoas a espera de cirurgias.
No Paraná, são 238 pacientes que estão na fila hoje, um número muito maior do que em fevereiro, quando o primeiro caso do tema foi relatado.
Em Minas Gerais, o estado registra outros 206 pacientes, a espera da Valvuloplastia.
No Distrito Federal, são 160 pessoas a espera do procedimento, duas a menos que em São Paulo, onde 158 pacientes aguardam na fila.
Esses dados são atualizados diariamente e podem mudar para mais ou menos, a depender da quantidade de procedimentos realizados e pessoas diagnosticadas, onde a cirurgia passa a ser opção.
Muitas das vezes, os médicos tentam realizar os tratamentos por via medicamento, a depender do tipo de problema que acomete aquela válvula.
Quando o comprometimento é de um grau muito elevado, ou atinge mais de uma válvula, é imperativo que ocorra a intervenção cirúrgica.
O procedimento de valvuloplastia, pode ser feito de forma invasiva, por catéter.
Ou de peito aberto, em casos mais graves e que demandem esse tipo de tratativa.
É o médico de acordo com o histórico do paciente, que irá definir a melhor forma de atuação.
A Valvuloplastia por catéter, é a mais comum, e resolve cerca de 95% dos problemas de válvulas cardíacas.
Na rede pública de saúde, o procedimento custa R$ 70 mil, por paciente.
O que chama a atenção, já que na rede privada a média de custo do mesmo procedimento é de R$ 30 mil.
Até hoje, ninguém explicou apesar dos questionamentos da Reportagem, porque na rede pública, a cirurgia custa quase duas vezes e meia mais.
O que são válvulas?
O coração humano possue 4 válvulas cardíacas responsáveis por auxiliar no funcionamento correto do órgão.
Essas válvulas se abrem e fecham, o tempo todo, para que o sangue seja bombeado, passe e circule pelo corpo.
As válvulas quando apresentam por alguma razão alguma falha, podem deixar passar mais ou menos sangue que o adequado, procedimentos que podem custar a vida do paciente, se não tratados da forma correta e rápida.
Esta é uma das razões por exemplo, que a cirurgia deveria ser considerada emergencial, no Brasil.
Nos Estados Unidos por exemplo, de 10 a 30 pacientes, são operados por dia, para correções em válvulas cardíacas.
Lá, não existe cirurgia eletiva para este tipo de caso, todos os hospitais, tratam a questão como emergencial.
No Reino Unido, onde o sistema de saúde é público para quase toda a população, a mesma coisa.
Nem um procedimento cardíaco é tratado como eletivo, todos são emergenciais.
Uma média de 15 a 25 cirurgias são feitas por dia, para tratar problemas de coração, o que permite chances de sobrevivência aos pacientes.
No Brasil, os dados que são levantados só com pacientes que necessitam de reparos em válvulas, assustam.
Em 18 de setembro de 2024, eram 1208 brasileiros que estavam nessa situação.
De 2 de janeiro a 17 de setembro de 2024, morreram no país, 206 pessoas a espera de cirurgias desse tipo.
E que estariam na fila de eletivas.
Das 1208 pessoas que esperam cirurgias para correção de válvula, 450 são crianças.
Das 206 mortes registradas no país, de pessoas a espera de reparos em válvulas 56 eram crianças.
Em São Paulo, 15 crianças morreram esperando o procedimento.
É a maior taxa de mortalidade do país.
No Paraná, foram 12 mortes contabilizadas.
Minas Gerais vem na sequência com 9 óbitos.
Seguido por Goiás, com 8.
O Distrito Federal aparece a seguir, com 7 crianças mortas na fila.
Os números chamam a atenção, porque morrem mais pessoas e estão em filas de eletivas, mais pessoas em estados considerados com mais recursos financeiros, do que nos estados menos favorecidos.
No Ceará e na Bahia por exemplo, morreram 3 crianças em 2024, a espera de Valvuloplastias.
A Bahia possue 33 pessoas em fila de cirurgias eletivas para esse procedimento, enquanto o Ceará tem 16.
No Acre e em Rondônia, não existem pessoas em filas nem dados que possam contabilizar se houveram morte a espera pelo procedimento em 2024.
Em 2023, morreram 6 crianças sendo 3 em cada um desses estados, por problemas relacionados a válvulas cardíacas.
Foto / Reprodução – Imagem mostra a representação de um coração humano