14/03/2024 | 8h
Nesta Coluna gostaria de abordar um tema muito importante, e que de fato tem impacto na vida de muitas pessoas tão quanto teve na minha.
Levo os leitores a se perguntar, “Como é a Educação Inclusiva no Brasil?
Será que existe mesmo a prática que é colocada na teoria?”
Hoje muito se fala em inclusão, mas o quanto disso passa por uma inclusão real e o quanto é apenas papel?
Os últimos anos foram dedicados para pesquisar sobre o tema, voltado a atender um público que eu conheço bem, deficientes visuais, já que sou um deles.
Com base nas experiências que tive em escolas regulares e nas salas de aulas, nos contatos com alunos e professores, comecei a indagar.
O que mudou de 2008, ano em que me formei no ensino médio, para cá?
Avançamos mas não como gostaríamos, é um fato. E essa culpa é de quem?
Vejam que hoje, todas as escolas são obrigadas a receber alunos com qualquer tipo de deficiência, incluindo a visual.
Os professores do ensino regular, recebem estes estudantes mas muitas das vezes ainda se assustam, por não saber como lhe dar com estas pessoas em sala de aulas.
Acompanhem que, hoje é obrigatório que os professores saibam a Libras (Linguagem Brasileira de Sinais).
Aliás aprendem isto na faculdade como disciplina obrigatória, o que é louvável.
Mas quantos desses professores sabem ler o Braille?
Escrita usada por deficientes visuais em alto-relevo, e que com certeza você leitor já se deparou nos supermercados em embalagens, ou nas caixas de remédios de muitos laboratórios.
A resposta é muito pequena perto do que deveria ser.
Apenas 2% dos professores da rede pública de ensino, conhecem o Braille.
Isso quer dizer, que sabem o ler.
O número é maior quando trazemos professores de Educação Especial.
Mas estes professores não integram o ensino regular, ficam nas chamadas salas de recurso, que são um apoio para o aluno.
E que estão cada dia mais em desuso no Brasil.
Estas salas estão em desuso, porque o governo criou uma política inclusiva, que obriga o deficiente estar em sala de aula.
Se esqueceram porém do preparo.
Quem ensina o professor como lhe dar consigo no dia-a-dia, são os próprios deficientes visuais.
Quem faz a transcrição do Braille para a tinta quando necessário, são professores da sala de recursos.
Ou para aqueles invisuais que conseguem, amigos que são ensinados a ler o Braille.
Isso é incluir?
A tecnologia chegou a um ponto que auxilia e torna-se indispensável para nós hoje.
Quase tudo é digital e isso foi muito bom e proveitoso.
Ainda assim, temos centenas de pessoas no Brasil que não tem acesso a recursos de acessibilidade, nem Braille nem digital.
Outra falha da política educacional inclusiva, que me parece não ser tão inclusiva assim.
Dados numéricos:
Existem 6500000 pessoas no Brasil hoje, com algum tipo de deficiência visual.
650000 destas, são pessoas com deficiência total, como eu, que não enxergam nada.
Existem matriculados em escola pública hoje, mais de 2350 alunos.
E a maioria deles, sem recursos adequados para que possam estudar.
O que seriam estes recursos?
Máquinas Braille para que possam escrever.
Ou Tablets ou Notebooks, que lhes permitam o acesso digital.
Ponto importante a se destacar, é que nem todo o material ainda hoje, existe em Braille, quando falamos em livros, apostilas, o que torna o acesso mais limitado.
Apesar de já existir muita coisa.
Mas digital, todo material pode ser.
Vejamos que, todo e qualquer livro antes de estar no papel, vem pelo computador.
Ou seja ele é digital, em formato PDF na maioria das vezes.
O que facilita a acessibilidade das pessoas com deficiência visual, mas que muitas editoras não liberam.
Falar sobre Educação Inclusiva ainda é um tabu, que precisamos quebrar.
Por isto pesquisei muito sobre o assunto antes de dizer qualquer coisa.
Vejo que é possível avançar se houver união, interesse, mas é preciso que se haja.
O poder público deixa a desejar, em todas as esferas, salvo raras exceções.
Cito por exemplo a cidade de Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, onde a Educação Inclusiva é uma pauta constante na Administração, e muito difundida.
Lá até feira do livro com stand voltado a pessoas com deficiência existe.
Fora outros programas de inclusão interessantes.
E detalhe, Caraguatatuba tem cerca de 125 mil habitantes,
e uma Secretaria dos Direitos da Pessoa Com Deficiência e do Idoso.
Não entendi até hoje, porque uma cidade do porte de Franca por exemplo, não tem.
O que falta para avançarmos nesse quesito no Município?
Reforço, muitas coisas melhoraram nos últimos anos, mas ainda há muito o que melhorar.
Vamos falar então sobre a Educação, com o olhar daqueles que todos os dias passam na pele ou passaram, pelo processo educacional no Brasil.
Na terça-feira, 12 de março, lancei o Projeto “Olhar Pela Educação”.
Que pretende abordar exatamente este tema, trazendo ao conhecimento da sociedade.
O projeto, consiste em apresentar um Congresso Online sobre o tema, onde debateremos este e outros assuntos sobre Educação Inclusiva.
Que acontece em 8 de abril.
Data em que se celebra o Dia Nacional do Braille.
Olha, temos um Dia do Braille no Brasil, mas não temos professores lendo a escrita no ensino regular.
Contraditório não? Falaremos sobre isto e mais.
E você leitor, da sociedade civil e professor, que queira saber mais sobre o assunto, é convidado a participar.
Em breve publicarei na Coluna, e no Site https://orconpress.com.br mais sobre o assunto.
Nota:
Essa semana quero deixar aqui mais um alerta a Prefeitura de Franca.
Semana passada escrevi sobre os moradores de rua, que se proliferam na cidade.
Passado um tempo, eles continuam a se multiplicar na Zona Leste, em específico.
Pergunto, até quando vai isso?
E reitero a pergunta também do centro da Coluna.
Por que Franca não tem Secretaria Municipal PCD?
Com a palavra o Poder Público Municipal.
Guilherme Kalel
Jornalista e Escritor. Editor Responsável pelo Portal Orcon Press
MTB: 89344/SP
guilherme@orconpress.com.br
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